O Processo de Eleição Direta do Partido dos Trabalhadores (PT), que
ocorreu neste domingo, resultou na vitória da corrente partidária
liderada pelo deputado estadual Fernando Mineiro (PT) e pelos vereadores
Fernando Lucena (PT) e Hugo Manso (PT), tendo como principal derrotada a
deputada federal Fátima Bezerra (PT). A corrente vencedora levou a
melhor em Natal, com a vitória de Juliano Siqueira (PT), e vencia em
nível de Estado o pleito até o fechamento desta edição, com o atual
presidente estadual do PT, Eraldo Paiva, derrotando o candidato da
deputada Fátima, Olavo Ataíde, com placar de 1.701 contra 1.515. Ainda
restavam ser apuradas cerca de 20% dos votos.
Além de vencer no Estado e na capital, a corrente petista liderada
pelo deputado Mineiro e pelos vereadores Hugo e Lucena também derrotou a
ala encabeçada por Fátima no segundo maior colégio eleitoral, Mossoró, e
também em Caicó. Na capital do Oeste, a eleição foi muito apertada e,
por uma diferença de quatro votos, Gilberto Diógenes derrotou a
professora Ady Canário. Em Caicó, venceu Gilberto, que foi vice-prefeito
na gestão do ex-prefeito Bibi Costa.
O grupo liderado por Mineiro também venceu nos quatros zonais de
Natal, derrotando as chapas apresentadas pela deputada Fátima, sendo na
Zona Norte (Nilcley), Zona Leste (Chiquinho), Zona Oeste (Ceiça) e Zona
Sul (Emerson). O presidente eleito do diretório do PT em Natal, Juliano
Siqueira, define o espírito da eleição petista, afirmando que o
resultado do PED em Natal e no Rio Grande do Norte refletiu a derrota da
proposta de acordo do PT com as oligarquias tradicionais do Estado,
defendida pela deputada Fátima, a maior derrotada nas urnas internas do
PT. “As chapas que ela defendeu foram eleitoralmente esmagadas. Ela não
elegeu sequer os zonais. Tivemos 70% dos votos”, confirma Siqueira.
Para o vereador Hugo Manso, o resultado do processo eleitoral interno
do PT mostra que o partido tem dinâmica e vida própria e que as
diferenças e as disputas dos dirigentes são compartilhadas pelos
filiados. “Não diria que haja derrotados. Trata-se da escolha que a
maioria fez. A direção será composta de forma proporcional”, disse, se
referindo aos 47 cargos do diretório estadual. Destes, 17 são da
comitiva executiva da legenda. Sobre a influência das eleições internas
na posição do PT em 2014, Manso afirma que o debate interno do PT é
muito mais amplo que a sucessão estadual. “Trata-se de como o partido
deva funcionar. O debate acontece independente desse resultado. Nós não
votamos se vamos ter candidato próprio. Nada disso estava na eleição”,
declarou.
O presidente do diretório estadual, Eraldo Paiva, levava vantagem
sobre Olavo Ataíde até o fechamento desta edição. “Foi um processo onde a
militância participou como um todo. O PED é um processo riquíssimo para
a construção do PT. Somos escolhidos pela militância”, disse Eraldo
Paiva. Sobre os rumos do partido em 2014, ele acrescentou que o PT vai
trabalhar coletivamente. “Nós vamos trabalhar coletivamente. Então, o
resultado desta eleição coloca o desafio de conduzir os rumos que a
militância do PT quer”, declarou.
O deputado Mineiro e a deputada Fátima não foram localizados pela
reportagem. Em termos de 2014, Mineiro defendia a candidatura própria do
PT a governador, mas teve de retirar a proposta por influência do
diretório nacional. A medida atendeu apelo do presidente Rui Falcão,
tendo em vista acordo político entre PT e PMDB com vistas à sucessão
estadual. Por este acordo, o PMDB apresentará candidato a governador e o
PT, a senador. O nome do PMDB até agora é o do ex-ministro da
Integração Fernando Bezerra. No PT a candidata ao Senado é a deputada
Fátima.
“Acordão de 2008 foi um desastre para o PT. O acordão está superado”
O acordão de 2008, que resultou na candidatura da deputada federal
Fátima Bezerra à Prefeitura de Natal, com a derrota dela no primeiro
turno para a, então, deputada estadual Micarla de Sousa (PV), ainda é um
capítulo dramático na história do PT. É nesse sentido que o partido
“foge” literalmente de qualquer trama política que se aproxime de acordo
de poderosos questionáveis pela opinião pública.
“Nós ainda estamos trabalhando na linha do acordão. O acordão de 2008
resultou num desastre. O partido tinha uma bancada de três vereadores e
não elegeu nenhum. Perdemos a bancada e a candidata do acordão, Fátima
Bezerra, foi derrotada no primeiro turno por uma figura com a expressão
de Micarla de Sousa. Nem segundo turno houve.
Depois do desastre, estamos tentado reconstruir. Tanto que as chapas
que Fátima defendeu foram eleitoralmente esmagadas ontem. Ela não elegeu
sequer os zonais. Tivemos 70% dos votos”, observou Juliano Siqueira,
associando a derrotada de Fátima à recusa da maioria do PT à proposta de
acordão.
“Quer decidir política nos gabinetes refrigerados, no conchavo? O
acordão está superado. O brasileiro não aceita mais. Esse tipo de
política está tendo muitas derrotada no movimento popular. As multidões
estão reclamando, excluindo os partidos políticos, inclusive o PT. A
culpa é nossa. Temos que recuperar o PT histórico, que foi construído
para trabalhar junto com as massas e trabalhadores brasileiros”.
Especificamente sobre o acordo entre o PMDB e o PT, Juliano Siqueira
desmonta. “Para nós não existe nada disso, não conheço nada. Não vi
nenhum papel. Não participei de nenhuma conversa. Quem quiser discutir
alianças conosco, a sede fica na Olinto Meira. Adianto que tem alguns
partidos que preferimos que nem chegue lá para não receber porta na
cara: PSDB, DEM, PPS. Mas outros, se quiserem se redimir de seus erros e
alianças ideológicas, receberemos e discutiremos. Mas, até agora, não
recebemos. E minha posição pessoal e a tendência é no sentido de termos
candidato próprio, podendo flexibilizar. Mas vai depender deles, ampliar
o processo de discussão e principalmente da decisão da ampla maioria do
partido. Não vai ser nenhum iluminado ou iluminada que irá decidir o
nosso caminho”.
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