O Governo do Estado, finalmente, se pronunciou sobre a crise
financeira que teria justificado o corte financeiro de 10,74% no
orçamento dos demais poderes. Falou, falou, mas não explicou: como
chegou a esse percentual de frustração de receita e se desde que a crise
foi anunciada houve algum superávit financeiro. Pelo menos foi essa a
análise feita pelo procurador-geral de Justiça, Rinaldo Reis. Segundo
ele, mas uma vez, o Executivo perdeu a chance de se explicar.
“Li a entrevista concedida pelo secretário de Planejamento e
Finanças, Obery Rodrigues, mas o Governo ainda não conseguiu explicar de
onde tirou os 10,74%, que foi o percentual cortado dos poderes. E
também não disse se houve nesse período (de julho a outubro, no
pós-crise) uma arrecadação maior do que a prevista. Na verdade, não foi
apresentado nenhum número nesse sentido”, analisou o procurador-geral de
Justiça.
A análise de Rinaldo Reis não foi por acaso. Na semana passada, O
Jornal de Hoje mostrou alguns dados com base no Portal da Transparência
onde é possível ressaltar que o valor arrecadado de ICMS, em setembro,
foi o segundo maior dos últimos quatro anos. Quase R$ 360 milhões. Mesmo
assim, o Governo do Estado atrasou o pagamento da folha salarial dos
servidores, anunciando uma reprogramação na quitação dos vencimentos.
Além disso, uma equipe formada por técnicos em finanças dos poderes
Judiciário e Legislativo e dos órgãos auxiliares Ministério Público e
Tribunal de Contas do Estado (TCE) constatou que a frustração da receita
prevista para esse período, de 10,74%, chegou apenas a 3,5%. Contudo,
todos esses órgãos tiveram seus orçamentos cortados no percentual linear
estabelecido pelo Governo do Estado, ou seja, os 10,74%.
Contudo, Rinaldo Reis prefere não antecipar qualquer análise ou
acusação ao Governo do Estado. Até porque na última semana ele recebeu,
da governadora do Estado, Rosalba Ciarlini, do DEM, os números que
precisava para concluir a fase inicial do inquérito civil instaurado
para apurar a aplicação do orçamento e o atraso salarial.
“Prefiro não tirar nenhuma conclusão até concluir a análise desses
números e tentar desvendar esse mistério que é a frustração no patamar
que foi estabelecido pelo Governo do Estado. Veja bem, não estou dizendo
que não houve frustração, mas questionamos se foi mesmo nesse patamar”,
ressaltou Rinaldo Reis.
CONTRADIÇÃO
Além da falta de informações importantes, o procurador-geral de
Justiça também viu algumas contradições na entrevista concedida pelo
secretário de Planejamento e Finanças. Entre elas, quando Obery
Rodrigues, questionado sobre o fato do MPRN estranhar a receita em
crescimento e o atraso na folha, responde que a afirmação é uma
“agressão à inteligência” das pessoas que lidam com essa questão da
fiscalização, como é o caso do TCE.
O problema é que o Tribunal de Contas do Estado é, justamente, um dos
que questionam os números apresentados pelo Governo do Estado. O órgão
também faz parte dessa equipe formada e que chegou ao percentual de
3,5%, que seria realmente o tamanho da frustração orçamentária. “Com
certeza, há uma contradição nessa declaração. O problema foi que o
Governo não apontou nenhum número que justificasse o que afirmou com
relação ao orçamento”, acrescentou Rinaldo Reis.
Portal da Transparência mostra diferença de quase R$ 2 bilhões entre receita e despesas
Não é por acaso que o Ministério Público do RN, assim como alguns
deputados da Assembleia Legislativa, reclamam da falta de transparência
do Governo do Estado. O Portal da Transparência, principal fonte de
informação do Executivo que, por lei, foi criado com esse intuito,
apresenta distorções importantes e que terminam por destituir o discurso
de crise do Governo do Estado. Afinal, lá é possível constatar que há
uma diferença de quase R$ 2 bilhões entre a receita de janeiro a outubro
e a despesa desse mesmo período.
A situação financeira vai, justamente, de encontro ao discurso do
Governo. Afinal, o Executivo afirma que o problema não é o aumento da
arrecadação financeira do Rio Grande do Norte, mas sim o fato que a
despesa aumentou mais do que a arrecadação, baseada numa frustração de
repasses. A consequência disso foi a necessidade de cortes
orçamentários.
Segundo o Portal da Transparência, de janeiro a outubro, o total pago
pelo Rio Grande do Norte foi R$ R$ 5.191.550.007,97. Só de pessoal,
encargos sociais e vencimentos e vantagens fixas do pessoal civil foram
R$ 1.389.586.372,49. Aposentadoria e Reformas, mais R$ 855.338.309,04.
Somado esses quase R$ 5,2 bilhões aos R$ 717.455.495,49, que foi o
valor, segundo o Portal, repassado aos demais poderes, chega-se a pouco
menos de R$ 6 bilhões de despesas totais até esse período. Ministério
Público recebeu R$ 123.109.492,38; Poder Judiciário, R$ 417.801.727,26;
Poder Legislativo, R$ 140.175.990,81; e Tribunal Contas, R$
36.368.285,04.
Ressalta-se que, se comparado aos valores pagos entre janeiro e
outubro de 2012, as despesas do Estado chegaram a cerca de R$ 5,4
milhões. Ou seja: de um ano para o outro, a despesa aumentou cerca de R$
500 milhões. O valor, aparentemente, não seria responsável por causar
uma crise financeira tão grande quanto o que se afirma hoje.
Porém, o que chama a atenção realmente e termina por questionar as
explicações dadas pelo Governo com relação a situação financeira do
Estado é o confronto entre despesa e receita. Afinal, a despesa em 2013
foi de menos de R$ 6 bilhões, enquanto a receita, de R$
7.739.577.322,09. Uma diferença de R$ 1,8 bilhão.
É importante ressaltar que, mais do que uma medida governamental para
buscar a transparência na gestão pública, o Portal da Transparência
também é lei. Lei Complementar nº 131, que alterou a Lei de
Responsabilidade Fiscal no que se refere à transparência pública,
especialmente ao determinar a disponibilização de informações sobre a
execução orçamentária e financeira da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios.
Essa Lei estabelece que todos os gastos e receitas públicos deverão
ser divulgados em meios eletrônicos. Municípios com mais de 100 mil
habitantes, bem como órgãos estaduais e federais, têm o prazo de um ano
para se adequarem à nova norma.
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