Mais de 1 milhão de investidores em todo o Brasil espera há cinco meses
uma definição sobre o impasse em que se envolveu o maior fenômeno das
empresas de Marketing Multinível (MNN), a Telexfree. Após várias
derrotas nos tribunais, que suspenderam as atividades e determinaram
bloqueio de bens, os investidores aguardam a liberação dos R$ 230,1
milhões retidos pela justiça. A empresa é suspeita de liderar um esquema
de pirâmide financeira.
Apesar dos bloqueios, a empresa ainda
atrai novos “divulgadores”, como são chamadas as pessoas que investem
recursos na rede de marketing. Agora, porém, eles aplicam dinheiro nas
redes formadas nos Estados Unidos, Argentina, Chile e Bolívia. Os
divulgadores destes países compartilham as redes de investimentos com os
brasileiros. Somente na Bolívia, a estimativa é de que 100 mil
brasileiros estejam atuando hoje.
Enquanto isso, a empresa tenta a
todo custo derrubar um processo judicial movido pela juíza Thaís
Borges, da 2ª Vara Cível da Comarca de Rio Branco (AC), que em 18 junho
passado bloqueou as contas bancárias da representante legal no Brasil, a
Ympactus Comercial LTDA. Desde então, as atividades da rede estão
suspensas. No Rio Grande do Norte, a estimativa é de que 75 mil pessoas
tenham investimentos na rede marketing multinível da Telexfree.
O
NOVO JORNAL tentou contato com vários divulgadores. Poucos quiseram
falar, mas todos nutrem a expectativa de reaver os investimentos. O
baiano Marcus França, 35, responsável por arregimentar boa parte dos
potiguares para a rede de investidores, informou que a direção da
Telexfree solicitou o “silêncio” dos divulgadores.
“Eu tenho que
ficar neutro. Não quero prejudicar a empresa. Eu tenho recursos
bloqueados, sei do drama de milhares de divulgadores, mas prefiro não
falar nada. A empresa pediu para que os divulgadores esperassem em
silêncio”, justificou por telefone.
Mais conhecido como
“Presidente”, França era figura carimbada nas palestras de motivação
para novos divulgadores da Telexfree. Os encontros serviam para explicar
o “métier” aos investimentos. Em abril passado, numa das primeiras
reportagens feitas pelo NOVO JORNAL sobre o assunto, ele revelou ter
obtido mais de R$ 2,5 milhões com o marketing multinível.
O
ex-vereador de Natal Heráclito Noé, outro grande investidor potiguar,
também não quis falar muito sobre os recursos bloqueados. Ele recorreu a
um processo individual para reaver o investimento, mas não quis revelar
o valor questionado judicialmente. Em abril passado, Nóe revelou que
realizou o primeiro investimento em setembro de 2012, quando aplicou R$
30 mil na empresa. Em janeiro, ele investiu outros R$ 250 mil na
Telexfree. Até junho, o faturamento mensal era de R$ 100 mil. “Hoje eu
não quero falar sobre isso. Estou com a vida sossegada”, diz.
No
entanto, ele reclama da atuação da assessoria jurídica da Ympactus na
defesa das atividades da Telexfree no Brasil. “Foram primários. Enquanto
o processo ainda tramitava no Acre, os advogados entraram com ações no
Superior Tribunal de Justiça (STJ). Houve uma demonização em torno da
Telexfree e os divulgadores acabaram com os investimentos bloqueados”,
reclama.
Desde junho passado, o Superior Tribunal de Justiça
(STJ) negou oito liminares solicitadas pela Ympactus. A empresa pedia a
derrubada da decisão acreana. Responsável pelos processos, a ministra
Isabel Gallotti argumentou que ainda falta esgotar a instância local
para que o STJ possa avaliar qualquer medida relativa ao caso. Passados
mais de 150 dias, o TJ do Acre ainda não encerrou a questão.
Hoje,
Heráclito Noé atua como advogado criminal, é professor de direito penal
em uma faculdade particular e também delegado de Polícia Civil. “Minha
rotina não foi alterada em nada. A diferença é que não estou recebendo
os repasses”, conta.
Ele reafirma que a Telexfree não é uma
pirâmide financeira. “Se fosse, seria estelionato. Ocorre uma
insegurança jurídica e nada foi feito para reverter isso. Mas isso não
atrapalha o funcionamento. As pessoas estão investindo nas redes
formadas fora do país”, conta. Noé espera que o modelo de Marketing
Multinível seja regulamentado no país. “Nos Estados Unidos, a
regulamentação foi aprovada em 1989. Por que não pode se fazer o mesmo
no Brasil?”, indaga.
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