Juridicamente, a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) ainda não tem o
que temer sobre a possibilidade de perder seu mandato, como já
reivindicaram alguns deputados estaduais. Mas, na sociedade, a situação é
quase irreversível. Esta é a opinião do advogado e especialista em
Direito Eleitoral, Erick Pereira.
“Há no RN, hoje, um impeachment social. Você vê essa negativa, essa
rejeição de um governo absolutamente desastrado, precisa apenas analisar
os aspectos de aceitação. Não sei se há tempo de recuperação, não sei
se há coragem de enfrentamento de reeleição.
Não acredito em impeachment jurídico, Mas se fizer uma análise de
impeachment social, impeachment ético, moral, infelizmente a grande
expectativa que se teve desse governo foi uma grande decepção”, disse
Erick Pereira.
O advogado alertou que esta sensação não é sua, mas traduzida nos
resultados divulgados em quase todas as pesquisas qualitativas e de
intenção de voto no Rio Grande do Norte. Resultado “da frustração
daquela expectativa de melhora da sua cidade e Estado, e hoje vê apenas
um caos de falta de comando no RN. É isso que existe, não apenas um
sentimento local, mas algo que se escuta em vários pontos. O aspecto
negativo é muito forte e isso é ruim para todos nós”.
Ainda de acordo com Erick, o afastamento da governadora, no aspecto
jurídico, é improvável. Para o advogado, esta é uma “via muito
estreita”, onde seriam necessários “requisitos suficientes para que
possa fazer a mobilização”, o que envolveria os desembargadores do
Tribunal de Justiça e os deputados estaduais. “E não há fato específico e
determinado que caracterize isto”, disse, em referência ao fato de não
haver denúncias de improbidade claras contra a atual gestão.
O primeiro a pedir o impeachment da governadora foi o deputado
estadual Fernando Mineiro (PT). O petista acusou Rosalba Ciarlini de não
destinar os 25% do orçamento para o setor da educação, como é obrigada
por lei. Segundo o parlamentar, a democrata estaria colocando neste
cálculo o pagamento de servidores aposentados e inativos, como forma de
inflar o número.
Depois, foi a vez do também deputado estadual Nélter Queiroz (PMDB)
se posicionar a favor da saída de Rosalba. O peemedebista disse que a
população já estava cobrando os representantes da Assembleia
Legislativa, e que era preciso tomar alguma atitude em relação a isso.
Algumas entidades sindicais, que lideraram recentes movimentos
grevistas, também cogitam o afastamento da gestora.
Esta semana, foi a vez do juiz de Mossoró, Cláudio Mendes Júnior,
também cobrar de forma pública o impeachment de Rosalba. O magistrado
disse que a governadora era “ímproba e incompetente” e defendeu o uso de
mecanismos constitucionais para afastar maus administradores de suas
funções públicas. Além disso, ainda criticou o Ministério Público, por
não perceber os “absurdos” feitos neste governo.
“Quantidade de prefeitos cassados no RN foge a razoabilidade”
O advogado Erick Pereira também foi questionado sobre a onda de
cassações de mandatos de prefeitos pelo interior potiguar. Nos últimos
meses, tem se multiplicado a quantidade de gestores que estão sendo
afastados de suas funções por denúncias dos mais variados tipos.
“Na reforma eleitoral há artigo que fala que só pode afastar os
prefeitos por órgãos colegiados. O afastamento só pode ser feito pelo
TRE. Isso já é feito no Rio Grande do Sul. Os prefeitos são cassados na
primeira instância, mas não são afastados, só no Tribunal. Há um
respeito muito grande a soberania popular. Mas, se fizer uma análise no
RN, a quantidade de prefeitos sendo cassados está fugindo a
razoabilidade”, disse.
Para o advogado, “hoje qualquer juiz de primeiro grau, por menor que
seja o lastro probatório, pelos momentos que estamos vivendo, pelos
fatos negativos que estão imputando aos políticos, o RN talvez seja o
Estado com mais prefeitos cassados no Brasil. Toda semana tem prefeito
sendo cassado. Não quero dizer que isso não é importante, o que não pode
é banalizar a cassação, porque desrespeita a soberania, a vontade
popular. Nós vamos dar ao Judiciário uma oportunidade de transferir
aquilo que é uma decisão do eleitor”, concluiu.
Erick Pereira também abordou a questão da reforma política prometida
pelo Congresso Nacional. Em sua análise, não há mais tempo suficiente
para se discutir modificações na lei com relação a questões fundamentais
do processo eleitoral. Mas, há a possibilidade de surgir uma
minirreforma.
“Não é uma reforma estruturante, com debates profundos, que tenha
modificação direta para o benefício do cidadão, o que está sendo
discutido são modificações pontuais, uma minirreforma. Essas mudanças
vão favorecer principalmente os parlamentares do que o cidadão”, disse
Erick.
Neste momento, está se discutindo apenas o tempo menor de campanha e a
restrição maior de propagandas, por exemplo, fatores que geram economia
para quem é candidato. “O cidadão não tem nenhum benefício. O debate
sobre voto facultativo, financiamento público de campanha, não
acontecerão para 2014″, completou.
Mensalão
Sobre a reabertura do julgamento do mensalão, após os ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF) terem aceito os embargos infringentes
para parte dos condenados, Erick Pereira afirmou que o processo deve
durar mais dois anos, como previu o ministro Dias Toffoli.
“Dos embargos infringentes, a aberração processual, é que ainda cabem
embargos de declaração para poder finalizar essa primeira fase do
julgamento. Esse excesso está gerando impunidade. E este sentimento de
impunidade está incomodando a sociedade, e isto está prejudicando a
imagem do Supremo, porque a sociedade não compreende essa parte
burocrática que é a área do Direito. A sistemática do Direito no Brasil é
uma prática ad-eternum”, finalizou.
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