O período natalino costuma despertar o sentimento de solidariedade em
muita gente. Com a aproximação do Natal, as principais ruas da cidade
estão repletas de pessoas que depositam a esperança na solidariedade dos
natalenses por presentes e uma ceia de Natal. Já é possível encontrar
nos principais canteiros da cidade, avenidas e ruas grupos de famílias à
espera de doações. Na zona Sul de Natal, na avenida das Alagoas, em
Neopólis, mais de 50 famílias estão acampadas desde a semana passada em
busca de doações. O acampamento de Natal, como eles o chamam, já é
tradição e reúne pessoas de todas as regiões do Rio Grande do Norte. Ao
longo da avenida, várias barracas abrigam dezenas de famílias, com
crianças de todas as idades, que devem ficar até a próxima quarta-feira,
dia 25 de dezembro, esperando por doações.
As famílias estão acampadas em barracas improvisadas com resto de
madeira. Eles dormem em cima de papelões. Na hora das refeições, um
fogão é improvisado em cima de tijolos e o alimento, muitas vezes,
frutos de doações, é servido de forma coletiva. Para tomar banho, bem
como para beber água, eles se utilizam de um cano da Caern que jorra
água diariamente.
Logo no início da avenida das Alagoas já é possível encontrar as
primeiras barracas. Uma delas é a de Joelmo Barbosa de Moura que tem 36
anos e é pescador no município de São José de Mipibu. Este ano, segundo
ele, a pesca não está boa, e ele ficou desempregado e sem condições de
proporcionar um Natal digno para a família. Há sete anos, no período
natalino Joelmo se muda com a esposa e os cinco filhos para a avenida
das Alagoas em busca de doações. Ele não tem muitas ambições de presente
de Natal. “Quero apenas alimentação para a minha família. As coisas não
estão fáceis por lá, por isso que estamos aqui. Até mesmo se aparecer
um emprego eu estou aceitando, pois estou precisando”, afirmou.
Gilvaneide Felix do Nascimento, esposa de Joelmo, espera ganhar
alimentos na noite de amanhã para que possa ser feita uma grande ceia
entre os acampantes.
Isadora Karliane, 19 anos, mora em Mangabeira, distrito de Macaíba.
Ela trabalha com atividades domésticas, mas também decidiu acampar no
canteiro central, em busca de doações para a família e para o filho de
um ano e dois meses, que tem colostomia e necessita de fraldas.
“Acreditamos que o espírito natalino fará com que as pessoas se
sensibilizem conosco e nos doem o que elas puderem. Estamos aceitando
tudo, porque precisamos de tudo. Queremos de coração e sei que tem muita
gente boa no mundo. Espero ter muita paz, saúde e alegria nesse Natal,
como também um sacolão para levar para casa”, afirmou Isadora que está
acampada em uma barraca com o esposo e um dos dois filhos.
Damiana Pereira de Oliveira também mora no município de São José de
Mipibu e, como estava desempregada, decidiu acampar em Natal em busca de
alimentos e doações. “Minha situação está muito difícil, pois meu
marido está internado no Hospital João Machado e só sobrou eu para
colocar as coisas dentro de casa. Hoje, o que eu mais queria era a saúde
do meu marido e a paz para o filho”, desabafou Damiana. Ela disse que
aproveitou o acampamento para deixar alguns currículos em busca de
emprego.
Poucos metros depois, mais um grupo de barracas esperam ansiosamente
que um motorista pare o carro e entregue doações. Maria de Lúcia há mais
de dez anos sai do município de Serra de São Bento com destino à
avenida das Alagoas nesta época do ano. “A situação por lá está muito
difícil e se eu sair daqui com, pelo menos, duas cestas básicas está
ótimo. Se eu puder ganhar roupas e brinquedos para a minha filha e minha
neta também ficarei muito feliz”, disse. Por volta das 9h30, Maria de
Lúcia ainda estava à espera de doações para poder tomar café da manhã.
“Não temos dinheiro para comprar nada. Estamos aqui vivendo apenas do
que recebemos”.
A desempregada Simone Fernandes da Silva também mora no município de
Serra de São Bento e veio acampar pela primeira vez em Natal.
Segundo ela, que tem cinco filhos, a crise financeira a obrigou a ir
para às ruas esperar pela solidariedade do próximo para poder ter um
Natal melhor. “Queria poder ganhar duas cestas básicas e roupas para os
meus filhos, pois não tive condições de comprar nada para eles. Passar o
Natal com a mesa vazia não é fácil. Ver seus filhos pedindo um presente
ou querendo comer um panetone e não poder dar não é fácil. Só sabe quem
passa por isso. Estamos aqui porque precisamos, dormimos no chão, no
papelão, só passa por isso quem realmente precisa”, desabafou Simone
Fernandes.
Francisca Bezerra já é veterana no acampamento de Natal na avenida
das Alagoas. Há mais de dez anos, durante uma semana, sua residência
passa a ser o canteiro central da avenida. Este ano ela veio com o
marido e os cinco filhos. “Meu marido não pode trabalhar, pois ele tem
problema de saúde e eu tenho que fazer tudo. Trabalhar, colocar comida
dentro de casa e cuidar dos meninos. Não é fácil e muitas vezes não
consigo dar conta. “Não quero muita coisa. Quero apenas comida para não
passarmos fome. Tudo é bem vindo. Até uma caixa de fósforo estamos
recebendo com alegria”, disse Francisca, que mora em Felipe Camarão.
Há três anos, José Antônio, de 41 anos, saiu do interior da Paraíba
para morar no município de Serra de São Bento em busca de trabalho.
Hoje, ele trabalha na construção civil próximo a Neopólis, mas pediu
folga de uma semana para poder acampar e ter a chance de ganhar algo
para os cinco filhos. “Um salário não é suficiente para poder
proporcionar o mínimo aos meus filhos. Soube que todos os anos dezenas
de famílias vêm para cá e eu vim também para ver se consigo algo para os
meus filhos”, disse.
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