O município de São Tomé, distante cerca de 110 quilômetros de Natal,
com uma população estimada em aproximadamente 11 mil habitantes, já está
preparado para receber os dois médicos cubanos que trabalharão, a
partir da próxima semana, na Estratégia Saúde da Família da cidade.
Estrangeiros atuando na área da saúde não é novidade para a população de
São Tomé. Nos últimos anos, dois médicos estrangeiros, um boliviano e
um africano, de Guiné Bissau, trabalharam na Saúde da Família, com
resultados extremamente positivos. Agora, os cubanos devem passar os
próximos três anos trabalhando na zona Rural. Um irá para a Unidade de
Saúde da Comunidade de Espinheiro, distante 13 quilômetros do centro. O
outro irá para a Unidade de Saúde de Pedra Preta, que fica há nove
quilômetros da área urbana de São Tomé.
O município conta atualmente com cinco equipes do Programa Saúde da
Família, sendo que três na zona Urbana e duas na zona Rural. As três da
zona Urbana estão com a equipe completa, formada por médico, dentista,
enfermeiro e técnico de enfermagem. Uma, inclusive, é composta por um
médico que chegou ao município no mês de fevereiro através do Programa
de Valorização da Atenção Básica (Provab).
Inicialmente o médico do
Provab foi deslocado para a zona Urbana, mas pela deficiência, teve que
dar assistência, também, à zona Rural. No entanto, as duas equipes estão
incompletas e serão justamente nestas que irão atuar os dois médicos
cubanos Reinolky Perez e Maylin Rodriguez. Eles já estão em Natal desde o
último domingo participando da semana de adaptação promovida pela
Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap).
O secretário municipal de Saúde de São Tomé, Eriverton Rocha,
explicou que cada uma das duas unidades que receberão os médicos cubanos
– Espinheiro e Pedra Preta -, cobre uma média de seis a dez
comunidades. Com a chegada desses profissionais, cerca de quatro mil
pessoas serão beneficiadas e assistidas pelos profissionais. “Essas
pessoas não estavam desassistidas, mas eles tinham que se deslocar para a
zona Urbana ou esperar o dia em que uma das equipes da zona Rural fosse
atendê-los. Mas agora isso não mais acontecerá, pois conseguiremos
cobrir 100% do município”, afirmou.
Eriverton Rocha conta que há uma grande dificuldade de contratar
profissionais médicos para atuar no interior, pois os profissionais não
querem cumprir a carga horária de 40 horas estabelecidas pelo Programa
Saúde da Família. Os três médicos que trabalham atualmente no município
de São Tomé, inclusive o do Provab, trabalham apenas de segunda a
quinta-feira. A sexta-feira é a folga dos médicos. “A maioria dos
médicos não querem cumprir a carga horária. Alguns, às vezes querem vir
apenas dois dias ou três. A determinação é que pelo menos quatro dias
ele esteja no município”, afirmou. Atualmente, a Secretaria Municipal de
Saúde paga um salário de R$ 7,6 mil por médico do PSF.
O secretário conta que o desejo de inscrever o município no Programa
Mais Médico surgiu pela necessidade, diante da falta de profissionais.
“Como a dificuldade era grande e pela portaria vimos que se tratava de
um excelente programa, não pensamos duas vezes em aderir. Isso nunca
existiu, dois profissionais atuando no município cinco dias na semana é
muito bom para a população”, destacou Eriverton Rocha.
O município de São Tomé ficou responsável pela alimentação e
hospedagem dos médicos, além do transporte da residência para a Unidade
de Saúde. A casa onde os cubanos irão morar fica localizada no centro da
cidade, mas eles atuarão na zona Rural e terão que se deslocar, cerca
de 13 quilômetros por dia, para chegar até a Unidade de Saúde. “O
município só tem a crescer e a ganhar com a chegada desses dois cubanos.
Vamos dar um salto de qualidade na assistência básica à população”,
garantiu o secretário Eriverton Rocha.
Em relação às críticas feitas pelos médicos brasileiros de que a
estrutura física das unidades de são precárias, o secretário de Saúde de
São Tomé disse que a estrutura é boa, “dentro da realidade do nosso
município. Não é uma estrutura de primeiro mundo, mas não deixa a
desejar em nada. O médico consegue atender bem a população com a
estrutura que nós temos. Quanto mais cubanos melhor.
Iremos recebê-los de braços abertos. O preconceito é de uma minoria
que não entende a situação da saúde do Brasil. É fácil reclamar dos que
estão vindo de fora, mas cadê que os médicos daqui querem trabalhar
cinco dias na semana?”, ressaltou.
Os médicos cubanos terão que trabalhar 40 horas semanais, ou seja,
manhã e tarde, de segunda a sexta-feira. A fiscalização do cumprimento
desse horário, segundo a coordenadora estadual do Programa Mais Médicos
no RN, Uiacy Alencar, é de responsabilidade primeiro da população e
depois do Conselho Municipal de Saúde.
A ex-presidente do Conselho Municipal de Saúde, que atualmente está
como suplente, Aradir Faustino, disse que irá cobrar do Conselho essa
fiscalização. Ela conta que os médicos que atuam no município não
cumprem a carga horária completa. “Os médicos só vêm se for com um dia
de folga. Se não for assim, não funciona. Espero que esses médicos
possam servir de exemplo”, destacou. Aradir criticou o Conselho Estadual
de Saúde que não capacita os conselhos municipais para fazer o que é de
competência. “O conselho vai fazendo o que se aprende a fazer”.
População está ansiosa pela chegada dos cubanos
A merendeira Maria de Fátima Rocha de Souza mora na comunidade de
Raposa. Para conseguir atendimento médico ela tem que se deslocar até a
unidade de saúde mais próxima, que fica a quatro quilômetros, que é a
Unidade de Saúde de Espinheiro, que deverá receber um dos médicos
cubanos a partir da próxima semana. “Com a chegada desse médico vai ser
bem melhor, pois vamos conseguir ter médicos mais dias na semana. Hoje é
ruim, pois todo o atendimento tem que ser feito um só dia, mas não
escolhemos o dia que vamos adoecer”, destacou. Maria de Fátima disse que
não vê problema no fato de os médicos serem cubanos. “Não importa de
onde eles vêm, o que importa é que eles vêm e tudo vai melhorar”.
A unidade de Saúde de Espinheiro estava fechada na manhã de hoje,
pois como não há médicos do PSF, o médico que atende na zona Urbana se
desloca até lá para atender a população de cerca de seis comunidades
apenas nas segundas-feiras. O problema é que o atendimento é limitado a
20 pessoas e as demais ficam sempre para a outra semana.
A auxiliar de serviços gerais Maria Eilma mora mais distante. Ela
mora na comunidade de Ilhota, distante dez quilômetros da Unidade de
Saúde de Espinheiro, com o esposo e mais três filhos. Maria Eilma conta
que, às vezes, uma médica atende em um prédio antigo onde funcionava uma
escola, mas que, pela irregularidade no atendimento, a população
prefere se deslocar até a comunidade de Espinheiro. Muitas vezes, a
população pega carona no ônibus escolar para ir à Unidade de Saúde. Como
a estrada é de difícil acesso, ela chega a gastar 30 minutos de carro
para chegar à Unidade de Saúde.
“O acesso é muito ruim, mas saúde é uma coisa que precisamos sempre.
Se tivesse um posto de saúde ou um médico que atendesse a nossa
comunidade seria melhor. Agora com a chegada desses médicos ficamos
felizes, pois nos sentimos mais seguros ao saber que o dia que
precisarmos, mesmo distante, seremos assistidos”, afirmou Maria Eilma,
que não escondeu a ansiedade pela chegada dos médicos cubanos.
O agricultor Genival Teófiles dos Santos, 40 anos, mora na comunidade
de Pedra Preta, seis quilômetros de distância do centro de São Tomé.
Como na região onde ele mora não há médicos, sempre que precisa ele tem
que se deslocar até o centro da cidade em busca de atendimento médico.
“É bom que eles [os cubanos] venham e que vão trabalhar na zona Rural,
que é a área mais precisada (sic). Eu tenho quatro filhos e sempre que
preciso tenho que vir para cá e não é bom”, destacou.
A aposentada Tereza Alexandre da Silva, de 70 anos, gasta em média 15
minutos de moto do sítio onde mora até à Unidade de Saúde localizada no
centro da cidade. Ela não escondeu a felicidade com a possibilidade de
ter um médico trabalhando próximo da sua casa. “Ter um médico para
atender a gente no sítio é bem melhor. Não precisamos nem pegar carro ou
moto, o custo é bem menor e os riscos também. Graças a Deus que vamos
ter médico no posto de saúde”, afirmou a aposentada.
Maria Aparecida, de 33 anos, mora com as três filhas e uma neta no
assentamento que fica a 15 minutos do centro de São Tomé. Ela conta que,
pela distância, aproveita a ida das filhas para a escola para poder ir à
Unidade de Saúde. Quando ela chega, normalmente, as fichas já estão
esgotadas. Hoje, ela será atendida, mas ficou esperando na reserva.
“Quando tiver um médico lá eu não vou precisar me deslocar até aqui. Lá
mesmo eu vou poder me consultar e levar minhas filhas com mais
freqüência ao médico”, destacou.
Cubanos se sentem preparados para atender comunidades
Os dois médicos cubanos que irão trabalhar no município de São Tomé a
partir da próxima semana, Reinolky Perez e Maylin Rodriguez, são
casados e ambos são formados em Medicina Geral e Integral – o que
corresponde à Medicina de Saúde da Família no Brasil -, com mestrado em
doenças infecciosas. Os dois se formaram em Cuba, têm mais de dez anos
de experiência e já trabalharam como médicos na Venezuela. Reinolky
Perez conta que já pesquisou na internet informações a respeito do
município onde vão atuar e disse que gostou do que viu, “Vi que é uma
cidade pequena, bonita, bem organizada e estamos ansiosos por começar a
trabalhar e ajudar a população de São Tomé”, ressaltou o médico cubano.
Reinolky Perez, que tem 12 anos de formação médica, revela os motivos
que o trouxeram ao Brasil, especificamente ao Rio Grande do Norte.
“Primeiramente, pela importância do povo brasileiro e segundo pela
necessidade de assistência médica da população brasileira. Queremos
ajudar a população brasileira e melhorar a qualidade de vida dos
brasileiros”, destacou. O médico disse que já ouviu a realidade dos
postos de saúde do Brasil, em especial do Nordeste, onde na maioria das
vezes, é precária. “Estamos preparados para trabalhar, mesmo com as
dificuldades que existem na assistência. Faremos tudo com amor e carinho
para melhorar os indicadores de saúde”.
O médico cubano disse que não se importa com as críticas de parte da
classe médica brasileira e espera poder trabalhar com eles. “Não estamos
aqui para competir, queremos trabalhar com eles para melhorar a
assistência. Vai ser desafiante trabalhar no Brasil e em São Tomé, mas
estamos preparados para vencer mais esse desafio”, destacou Reinolky
Perez.
Maylin Rodrigues também está ansiosa para ir trabalhar em São Tomé.
“Queremos compartilhar a nossa experiência e ajudar a população de São
Tomé. Estamos dispostos a trabalhar e acreditamos que será muito
importante tanto para nós, enquanto médicos, quanto para a população que
precisa”, afirmou a médica cubana.
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