A dupla sertaneja Bruno e Marrone foi contratada para fazer três
shows num cruzeiro da Telexfree , empresa acusada de ser uma pirâmide
financeira . O cachê, que seria de R$ 500 mil, já está pago. O 2º
Extravaganza Telexfree acontece nos dias 15 a 18 de dezembro.
“A gente fez até um preço legal para eles”, disse um representante do
escritório que representa a dupla, sem saber que falava com a
reportagem. O contrato teria sido firmado “em maio ou em junho”,
afirmou. Metade do cachê foi pago no ato. “Eles demoraram um pouquinho,
mas honraram o compromisso [ e quitaram o resto ]. Mas eles pagaram
direitinho.”
Devedores
A Telexfree está com as contas bloqueadas desde junho por decisão da
2ª Vara Cível do Acre. O congelamento alcança também os sócios Carlos
Wanzeler, Carlos Costa, James Merryl e Lyvia Wanzeler.
Desde então, a Telexfree deixou de pagar seus divulgadores, como são
chamadas as pessoas que colocaram dinheiro no negócio. Até o início de
outubro, ao menos 50 conseguiram , na Justiça, o direito de reaver o
investimento, mas as decisões não estão sendo executadas em razão do
bloqueio judicial.
Procurados, os representantes da Telexfree não quiseram comentar as
informações sobre o contrato com a dupla de sertanejos. Eles sempre
negaram irregularidades nas atividades. A assessoria de imprensa de
Bruno e Marrone confirmou apenas a realização do show, mas não o valor e
as datas dos pagamentos.
Extravaganza
A imagem da dupla sertaneja foi usada para simbolizar que a situação
da Telexfree está melhor. No último domingo (20), a empresa postou numa
rede social a foto dos cantores com a frase “Os ventos voltam a soprar a
favor da Telexfree”. Em outra imagem, Marrone aparece autografando uma
camiseta da Telexfree.
O 2º Extravaganza Telexfree, que será realizado pela MSC Cruzeiros,
não é o único grande evento que a empresa vai realizar apesar do
bloqueio. Nos dias 1º e 2 de novembro, a empresa fará o “1º Extravaganza
USA”, nos Estados Unidos, onde os donos da empresa no Brasil fundaram,
em 2002, um negócio que mais tarde foi rebatizado de Telexfree Inc.
Pirâmide financeira
No Brasil, a Telexfree foi criada em 2010, mas só deu início às suas
atividades efetivamente em 1º de março de 2012, de acordo com a Justiça
do Espírito Santo, onde fica a sede da empresa. Desde então, cerca de 1
milhão de pessoas pagaram para aderir ao negócio, com a promessa de
lucrar na revenda de pacotes de telefonia VoIP , na colocação de
anúncios na internet e no recrutamento de mais revendedores.
Os representantes da empresa afirmam que o negócio se trata de
marketing multinível, um modelo legal de varejo em que representantes
autônomos são premiados pelas vendas de outros representantes. Mas para o
Ministério Público do Acre (MP-AC), responsávelo pelo pedido de
bloqueio, a Telexfree é, possivelmente, a maior pirâmide financeira da
História do País.
Em ação civil pública proposta logo depois do congelamento das
contas, o MP-AC pede o fim da Telexfree e a devolução das verbas aos
divulgadores. O caso, entretanto, ainda não foi julgado nem tem data
para ocorrer. No início de outubro, a defesa da empresa conseguiu uma
decisão que permitirá a análise do bloqueio pelo Superior Tribunal de
Justiça (STJ) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF) .
O caso chamou a atenção para a existência de uma série de outros
negócios apresentados como marketing multinível, mas que levantaram
suspeitas de promotores e procuradores da República. Cerca de 80
empresas estão sob escrutínio e, além da Telexfree, outras três – BBom ,
Priples e Blackdever – já tiveram as contas congeladas. Nenhuma delas
admite irregularidades.
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