Quem nunca ouviu o mito de que “servidor público não trabalha”? Esse
pensamento equivocado vem sendo diluído, pois é dever do servidor
público ser assíduo e pontual no serviço. No entanto, o número de falta
dos servidores públicos ainda é alto, o que prejudica a gestão de
serviços essenciais. Na Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) do
Rio Grande do Norte, por exemplo, o número de falta preocupa. Como forma
de garantir a assiduidade e pontualidade dos servidores lotados no
órgão desde o mês de junho todas as 36 unidades da Secretaria estão
equipadas pelo Sistema de Registro Eletrônico de Freqüência (SIREF),
aplicado a todas as categorias profissionais do quadro efetivo e
complementares da Secretaria. Desde a implantação do ponto eletrônico é
possível identificar um crescimento vertiginoso no número de faltas.
Durante o ano de 2012, a Secretaria de Saúde computou 5,4 mil faltas.
Este ano, até o mês de agosto, com dados ainda a ser atualizados, a
Sesap já registrou 5,5 mil faltas com uma projeção de chegar até o fim
do ano com aproximadamente oito mil faltas. Em 2012, a média de faltas
por mês foi de 367. Este ano, essa média saltou para 684 faltas mensais,
o que representa um acréscimo de 86,37%. Em junho, mês de implantação
do ponto eletrônico, a Secretaria registrou 706 faltas. Em julho (652) e
agosto (545), os números dos meses seguintes ainda não estão
atualizados.
O mês de julho registrou 94 servidores faltosos, em um total de 419
faltas computadas. No mês de agosto, foram 129 servidores que
totalizaram 565 faltas. No mês de setembro, o número de servidores
faltosos saltou para 200 – período que os servidores estavam em greve -,
totalizando 752 faltas.
A portaria n° 218/2013 -GS/Sesap, datada de seis de junho, explica
que o Sistema de Ponto Eletrônico para controle de freqüência dos
servidores segue um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que
estabelece que o Estado do RN deveria implantar Sistema de Controle de
Ponto Eletrônico Digital nos hospitais estaduais de Natal, Parnamirim e
Mossoró. Devido o tempo de adaptação, o ponto eletrônico passou a
funcionar plenamente a partir do dia 1º de agosto.
Em dezembro do ano passado, a Secretaria Estadual de Saúde já havia
publicado a portaria n°392-GS-Sesap que determinava o cumprimento
integral e imediato na carga horária de todos os servidores vinculados à
Secretaria. No entanto, à época não havia uma fiscalização rigorosa
quanto ao cumprimento da portaria, pois o ponto ainda era em papel.
A implantação do Ponto Eletrônico também surgiu da necessidade de
concretizar a otimização e padronização para o devido cumprimento das
jornadas de trabalho dos servidores em função dos atuais horários de
expedientes administrativos ou em regime de plantão e sobreaviso, nas
diversas unidades hospitalares e de referência da Sesap, de acordo o
estabelecido nas Leis Complementar Estadual n° 333/2206, que dispõe
sobre Planos de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR).
O responsável técnico pelo Sistema de Ponto Eletrônico da Sesap,
Carlos Cavalcanti, disse que o sistema já está implantado em todas as 36
unidades de saúde do Estado. Ele conta que o sistema está funcionando
em todas as unidades, mas explica que para o pleno funcionamento são
necessárias algumas condicionantes, como a rede de internet. Em Pau dos
Ferros e João Câmara, por exemplo, há muita queda de energia, o que tem
danificado os equipamentos com mais facilidade. “Temos um contrato com
uma empresa responsável pela manutenção desses equipamentos e damos um
prazo de até 48 horas para que eles voltem a funcionar”, destacou.
Hoje, de todas as unidades só há problemas na Ursap de São José de
Mipibu. Quando o ponto eletrônico apresenta problemas, a portaria 218
autoriza o uso de ponto manual, e quando o sistema retorna, essas
informações são alimentadas manualmente.
Carlos Cavalcanti conta que no início da implantação do ponto
eletrônico, a resistência, muitas vezes por desconhecimento, era maior.
Hoje, casos esporádicos de resistência, inclusive de chegar a danificar o
equipamento são identificados. Na manhã desta quarta-feira (23), a
Secretaria foi informada que o ponto eletrônico do Hospital Regional de
João Câmara apresentava problemas. Um servidor colocou cola no leitor
biométrico do equipamento.
“Nós temos câmeras de monitoramento e já identificamos o servidor que
possivelmente tentou danificar o equipamento. O sistema está em
funcionamento, mas ele precisa ainda passar pelo processo árduo de
aceitação dos servidores. Infelizmente ainda há a cultura de que o
servidor público não trabalha, mas com a implantação do ponto eletrônico
os servidores passam a ter a obrigatoriedade de cumprir fielmente a sua
jornada de trabalho. Hoje já percebemos que há uma força de trabalho
maior nas unidades, que conseguem dar uma resposta maior e aumentar o
número de atendimento e tudo isso é reflexo do ponto eletrônico”,
destacou Carlos Cavalcanti.
Outro reflexo do ponto eletrônico é a crescente no pedido de
exonerações. No Hospital Deoclécio Marques de Lucena, em Parnamirim,
sete profissionais, insatisfeitos com a implantação do ponto eletrônico
pediram desligamento do Estado. “Visto que o servidor tem que cumprir a
carga horária, alguns percebem que não tem condições de manter o vínculo
durante todo o seu horário de expediente”, explicou.
Para Carlos Cavalcanti, o desafio agora é reeducar o servidor.
“Fazê-lo entender que esse cumprimento da jornada de trabalho diminui a
carga de trabalho dentro da unidade. O servidor é para cumprir uma
determinada carga horária. Quando ele não faz, deixa o serviço acumulado
e algum outro servidor vai ser sobrecarregado, pois o Estado tem que
atender essa demanda. E outros servidores serão prejudicados”, considera
Carlos Cavalcanti. Diante dessa situação, a Secretaria instituiu a
portaria 321, que, por um reflexo da implantação do ponto eletrônico,
foi necessário parametrizar as escalas. “Foi necessário deixar bem claro
que de qualquer forma os plantões têm que ser cumpridos, pois as
pessoas estavam trocando demais os plantões para não haver
desorganização do serviço de atendimento.
Hoje, as trocas de plantões
estão limitadas a 30%”.
Em relação ao alto número de faltas, Carlos acredita que é devido ao
fato de as pessoas já não virem cumprindo os plantões, em função da
parametrização das escalas, já que o profissional não consegue mais
trocar a escala acima dos 30% e termina por faltar. Hoje, já há
servidores suspensos por excesso de faltas, respeitando a legislação.
Em termos de tecnologia, Carlos Cavalcanti explica que é necessário
avançar no sentido de emitir para o servidor um comprovante impresso.
“Entendemos que é muito mais benéfico para a gestão pública ter o
ticket, pois é uma forma do servidor se resguardar”, afirmou. A
Secretaria está concluindo o processo para aquisição de até 150 novos
equipamentos de ponto eletrônico, com biometria digital e emissão de
comprovante para os usuários do sistema. Hoje, há 54 equipamentos
espalhados pelo Estado, mas a proposta inicial é de comprar 108
equipamentos, de modo a duplicar a quantidade de máquinas instaladas por
unidades de saúde. A partir de novembro, o servidor poderá acessar pela
internet todas as informações a respeito do ponto eletrônico.
Carlos Cavalcanti lembra que a própria população pode cobrar a
presença dos profissionais nas unidades de saúde, haja vista que no site
da Secretaria Estadual de Saúde está disponível, mensalmente, a escala
de trabalho de todas as categorias de todas as unidades de saúde do
Estado. A informação é pública e mais uma ferramenta para o paciente
cobrar a presença do profissional na unidade hospitalar.
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