A Telexfree, suspeita de ser uma pirâmide financeira, pedirá à
Justiça que uma outra empresa possa assumir as dívidas com os
divulgadores – como são chamadas as pessoas que investiram no negócio. A
proposta, conhecida como sub-rogação, foi apresentada em um vídeo no
qual o diretor da investigada, Carlos Costa, admite a possibilidade de
derrota na Justiça.
As atividades da Telexfree, que alega vender pacotes de telefonia
VoIP por meio de marketing multinível, estão bloqueadas há 174 dias. O
pedido foi feito pelo Ministério Público do Acre (MP-AC), que pede a
extinção da empresa e a devolução do dinheiro aos divulgadores.
A medida causou uma enxurrada de ações contra a Telexfree, pois os
investimentos desses divulgadores – cerca de 1 milhão no Brasil – também
estão congelados. Mesmo quem ganha processos – como um ex-conselheiro
do Procon de Mato Grosso – não conseguem obter os recursos determinados
pela Justiça.
Os representantes da Telexfree, que sempre negaram irregularidades,
recusam-se a pôr fim ao negócio e fazer o ressarcimento. Num vídeo
divulgado na última sexta-feira (9), entretanto, o diretor Carlos Costa
apresentou a subrogação como uma maneira de os divulgadores recuperarem
seus investimentos.
“Ela [a empresa sub-rogada] estaria comprando do divulgador o potencial direito que ele viria a ter nessa causa caso a empresa perca [a ação judicial]”, disse Carlos Costa, sem esclarecer qual é essa empresa.
Costa também deixou claro que a devolução envolveria apenas os
valores investidos – ou seja, os expressivos lucros negócio estão fora
de questão –, e beneficiaria unicamente os divulgadores que não
conseguiram recuperar o que colocaram no negócio.
“Quero explicar para vocês quem são os divulgadores que têm direito a
essa sub-rogação ou mesmo a uma possível devolução”, disse Costa. “São
aqueles que não tiveram seus investimentos de volta, (…) aquela pessoa
que entrou na Telexfree atraves da Ympactus [razão social da empresa] aqui no Brasil, investiu seu dinheiro nas nossas contas VoIP e não teve o retorno do seu dinheiro, afirmou.
A Telexfree já começou a levantar os dados desses possíveis
beneficiários, segundo Costa, que disse esperar para a semana que vem
uma manifestação da Justiça sobre a proposta de sub-rogação.
A proposta seria feita pela empresa compradora aos próprios
divulgadores – que, certamente, teriam de oferecer algum desconto no
valor total devido, segundo José Nantala Bádue Freire, do Peixoto e Cury
Advogados. Ele vê, ainda, algum risco na operação.
“Se os credores se veem numa situação em que acham que não vão nada, e há alguém disposto a comprar o valor [que pode ser liberado pela Justiça],
eles conseguiriam garantir ao menos uma parte do que investiram”,
comenta. “Numa situação normal, esse tipo de conduta não seria
questionado. O problma é que na situação específica, tudo o que vier ao
conhecimento do MP pode vir a ser anulado.”
Se depender do Ministério Público do Acre, a proposta não será aceita
pela Justiça. “Não se se transfere crédito oriundo de atividade ilícita
para outra pessoa. Isso é um absurdo e, o que é pior, fica dando
esperança às pessoas de que elas vão voltar a ganhar dinheiro com isso”,
afirma Alessandra Marques, uma das promotoras que atuam no caso. “[O faturamento da Telexfree] não vem do VoIP, vem do dinheiro que cada investidor coloca na base da pirâmide. É a má-fé extrema.”
Perícia recusada
O julgamento que definirá se a Telexfree é pirâmide ou não, e se os
divulgadores terão ou não direito ao ressarcimento, só deve ocorrer a
partir de 2014. A Justiça havia solicitado uma auditoria nas contas da
empresa, mas a prestadora procurada para fazer o levantamento se recusou
a fazer o serviço, afirmou Costa, no vídeo.
Procurado, o Tribunal de Justiça do Acre não respondeu imediatamente
qual será o próximo passo da ação. Os advogados da Telexfree também não
atenderam as ligações feitas pela reportagem. No vídeo, entretanto,
Costa voltou a negar que a empresa tenha montado uma pirâmide
financeira. “De forma alguma vão conseguir provar o que não existe.”
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