O Jornal de Hoje monstrou nesta terça-feira uma notícia que seria
positiva para qualquer governo: os números das principais fontes de
receita do Estado (Fundo de Participação do Estado, ICMS, IPVA e Fundeb)
bateram recorde em 2013. O problema é que a gestão da governadora
Rosalba Ciarlini (DEM) tem utilizado um discurso inverso para falar
sobre a situação das finanças públicas estaduais. Diante do confronto de
análises, a matéria acabou dando motivo para o Ministério Público do RN
cobrar explicações e esclarecimentos do Governo sobre a realidade dos
números.
É importante esclarecer que os dados apresentados são provenientes do
Portal da Transparência, ou seja, são alimentados justamente pelo
Executivo. “Esses números com certeza são importantes e confirmam que
houve crescimento da arrecadação do RN. Agora, queremos que o Governo
apresente as informações a respeito das despesas e da frustração de
receita para confirmar se houve superávit financeiro”, afirmou o
procurador-geral adjunto de Justiça, Jovino Pereira, autor de um
inquérito civil público que apurar a aplicação do orçamento 2013 por
parte do Executivo e a legalidade do atraso salarial (reprogramação
financeira, segundo o Governo) ocorrido em setembro e já previsto para
continuar até o final deste ano.
Sobre o inquérito civil, até agora, chegaram apenas informações da
Secretaria Estadual de Tributação (SET). Porém, é fundamental o envio
das outras explicações para que o Governo possa confirmar sua análise
negativa com respeito as finanças. “As informações que estão sendo
levantadas pela equipe técnica do Tribunal de Justiça, da Assembleia
Legislativa, do Tribunal de Contas do Estado e do MP apontam que a
frustração de receita dita pelo Governo não se confirmou. Ela foi bem
menor que os 10,74%. Ficou em torno dos 3%. E isso quem diz são técnicos
especializados desses órgãos”, afirmou Jovino.
Com relação ao atraso salarial, segundo o MP, a preocupação só
aumentou com o anúncio do Governo do Estado de que essa “reprogramação
financeira” deverá continuar até o final do ano. “Estamos esperando os
outros dados a respeito do atraso de pagamento, que é visto por nos com
muita preocupação. Estamos acompanhando também que atitudes foram
tomadas pelo Governo antes de optar por esse atraso no pagamento”,
ressaltou Jovino.
Entre as atitudes que poderiam ser tomadas, segundo o MP, para cortar
gastos sem atrasar salários, estariam: a redução em pelo menos 20% das
despesas com cargos em comissão e funções de confiança (CF, art. 169, §
3º, I) e exoneração de servidores não estáveis (CF, art. 169, § 3º, II),
bem como de outras providências previstas na Lei Complementar Federal
n° 101/2000, como extinção de cargos e funções (art. 23, § 1º), ou ainda
extinção de órgãos públicos.
RECORDES
Na edição desta terça-feira, O Jornal de Hoje apresentou informações
do Portal da Transparência que confirmam que o Estado bateu recordes em,
praticamente, todas as principais fontes de receita, como Fundo de
Participação dos Estados (FPE), ICMS e royalties. No FPE, por exemplo,
em fevereiro, o repasse feito pelo Governo Federal foi de R$ 260,8
milhões, a maior registrada nos últimos quatro anos pelo Portal.
Com relação aos royalties, também houve recorde: R$ 23,3 milhões
repassados em março, devido a produção de petróleo e gás natural no Rio
Grande do Norte. Com exceção de junho, quando a arrecadação chegou aos
R$ 19,8 milhões, em todos os meses o repasse foi de mais de R$ 20
milhões.
O ICMS foi outra “boa notícia” para o Governo. Em setembro de 2013,
justamente o mês em que o Executivo atrasou os salários, a arrecadação
foi a segunda maior já registrada: R$ 357 milhões.
Visita de Obery não esclarece dúvidas de deputados
O secretário estadual de Planejamento e Finanças, Obery Rodrigues,
visitou a Assembleia Legislativa do RN na manhã de hoje para atender o
apelo de deputados estaduais, que há alguns dias cobram explicações
sobre as finanças públicas. Apresentou planilhas e, depois de algumas
horas, saiu da Casa Legislativa deixando os parlamentares, ainda,
insatisfeitos. “Não houve nada de novo. Foi a mesma coisa de sempre”,
analisou o deputado Fernando Mineiro, do PT, ressaltando que o
desinteresse foi tamanho que ele nem foi até o plenário acompanhar as
explicações de secretário. Assistiu pela televisão a visita.
“O secretário apresentou apenas o balanço do quadrimestre e não é
isso que queremos, até porque essas informações já estão disponíveis
desde o dia 20. O que queremos é informações sobre frustração. Há um mês
fiz um requerimento pedindo a frustração de receita prevista mês a mês,
de julho a dezembro, e até agora não foi enviado”, cobrou Mineiro.
Segundo o parlamentar, é com base nesse dado que será possível
acompanhar se as frustrações estão se confirmando e se está se
justificando os cortes de 10,74% feito pelo Executivo aos orçamentos dos
demais poderes – Tribunal de Justiça e Assembleia Legislativa – e
órgãos auxiliares – Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado.
Mineiro ressaltou, ainda, que essa situação é consequência do fato do
orçamento estadual está nas mãos do Poder Executivo e as informações
repassadas serem, exclusivamente, aqueles de interesse do Governo. Por
isso, inclusive, está apresentando um Projeto de Lei que dispõe sobre a
instituição, ampliação, integração e disponibilização das informações do
Sistema Integrado de administração Física e Financeira-SIAFI-RN.
Para o deputado, o sistema foi implantado no Rio Grande do Norte por
meio de decreto de 2002 e até hoje permanece hermeticamente voltado para
o Poder Executivo, exclusivamente, impedindo a completa transparência
das finanças públicas do Estado. Isso seria um choque com a legislação
sobre o acesso às informações, acrescendo-se a tudo isso, um Portal da
Transparência com sérias deficiências quanto ao seu conteúdo e
configuração.
13º SALÁRIO
Além de Mineiro, a deputada Márcia Maia, do PSB, foi outra que cobrou
explicações do Governo a cerca do orçamento estadual. “A governadora
surpreendeu a imprensa e disse que vai atrasar salários até o final do
ano. Ela chama atraso de reprogramação. Agora o nome atraso tem outra
definição no vocabulário da governadora”, afirmou.
Isso porque em pronunciamento feito no início da semana, a
governadora Rosalba Ciarlini, do DEM, confirmou que a “reprogramação”
deve ser continuar até o final do ano. A declaração, para Márcia Maia,
só contribui para aumentar a frustração do funcionalismo público, que
“já estava desmotivado pela falta de estrutura para executar seu
trabalho”.
Márcia Maia, no entanto, ressaltou que Rosalba poderá até atrasar o
pagamento dos servidores, mas não o do 13º salário, que seria ilegal
segundo a legislação trabalhista. A parlamentar, inclusive, apresentou
um requerimento com o pedido a ser enviado ao Governo do Estado para que
demonstre os números do provisionamento mês a mês para o pagamento do
13º salário dos servidores. Essa medida, vale lembrar, também foi pedida
pelo MP, em um inquérito civil público para apurar o atraso salarial e a
aplicação do orçamento de 2013.
“O governo justifica o problema citando frustração da receita em
cerca de 10%, mas pelo estudo da Comissão de Finanças da Assembleia, não
chega sequer a 3% até este mês. E com o histórico positivo de
arrecadação dos meses de outubro, novembro e dezembro, sequer pode
ocorrer. A frustração real é a do povo. Queremos explicações e soluções
para este caos no qual o governo Rosalba colocou nosso estado”,
destacou.
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