Construtora de quatro dos 12 estádios da Copa-2014, a Odebrecht
tornou-se um novo poder no futebol brasileiro. Uma comprovação desse
novo status é que quatro dos grandes clubes brasileiros já têm ou
passarão a ter dívidas com a empresa, sendo que dois deles são Flamengo e
Corinthians, donos da maiores torcidas do país.
Esses débitos são todos ligados às construções ou gestões das novas
arenas. No total, as dívidas giram em torno de R$ 500 milhões, embora
seja difícil calcular o valor exato. Por meio de consórcios, com
parceiros, a Odebrecht estabeleceu contratos com seis clubes. Náutico e
Botafogo, a princípio, não registram débitos com a empresa, mas o
Fluminense e o Bahia, sim.
A maior dívida é a corintiana por conta da construção do Itaquerão.
Com o dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) ainda
travado, e a lentidão para liberação de títulos da prefeitura, a obra
tem sido custeada por empréstimos bancários e recursos próprios da
construtora.
Pelo último balanço do fundo que administra o estádio, de agosto,
foram investidos R$ 716,9 milhões até agora, incluindo um montante de
reserva. Desse total, R$ 283 milhões foram obtidos com empréstimos em
bancos, com garantias da empresa. São débitos bancários do clube. O
restante, R$ 433,8 milhões é dívida direta do Corinthians com a
Odebrecht.
Segundo a diretoria corintiana, os juros cobrados pela empreiteira
estão em um patamar entre a TJLP (taxas mais baixas do BNDES) e a dos
bancos (mais altas). A cúpula do clube está preocupada com o volume de
débito por causa da demora da liberação da verba do banco estatal.
No momento, o Corinthians já acumula um valor entre R$ 70 milhões e
R$ 80 milhões em juros a serem pagos a bancos e à Odebrecht. Ou seja, o
débito com a construtora já ultrapassa o valor que foi investido, sendo
difícil de ser calculado precisamente neste momento.
Quando o dinheiro do BNDES sair, começará a ser usado para pagar a
Odebrecht. O mesmo ocorrerá com os CIDs (títulos de incentivo da
prefeitura). A partir daí, o débito que hoje é com a construtora e
bancos passará a ser com a Caixa Econômica, banco repassador dos
recursos federais.
No caso do Flamengo, já está alinhavada e aprovada operação de
adiantamento de R$ 30 milhões do Consórcio Maracanã SA, liderado pela
Odebrecht, referentes ao contrato de três anos para o clube atuar no
estádio. Esse valor será descontado das rendas da arena.
Membros da diretoria rubro-negra admitem que, com essa dívida para
quitar, não poderão romper o contrato mesmo que verifiquem condições
desfavoráveis. A estimativa é de um ganho de R$ 100 milhões em três anos
de compromisso.
No caso do Flu, há o acordo para o consórcio liberar um valor entre
R$ 9 milhões e R$ 13 milhões para a construção do centro de treinamento
do clube, que ainda está travado por falta de outras verbas.
Esse dinheiro também será descontado das bilheterias do estádio e foi
negociado dentro do contrato de 35 anos para o time atuar no Maracanã. A
diretoria tricolor até agora não reconheceu esse empréstimo, que foi
confirmado por fonte do negócio ao blog.
O blog apurou que também houve adiantamento ao Bahia referente ao
contrato para utilização da Fonte Nova. Não foi possível saber qual o
valor do empréstimo.
Dentro da Odebrecht, há a certeza de que a empresa já se tornou uma
peça importante no jogo de poder do futebol brasileiro ao construir
arenas e acumular créditos com os times de futebol. Claro que os débitos
colocam os clubes em posição mais fracas nas negociações contratuais.
Com isso, a empreiteira assume um papel, em menor escala, parecido
com o da Globo. A emissora de televisão é credora de quase todos os
clubes nacionais por conta de adiantamentos dos contratos de televisão.
O poder da Odebrecht ainda é menor porque a receita de estádios é bem
inferior a de tv. Conforme crescer a fatia da renda com as arenas,
aumentará a influência da construtora no futebol.
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