Entre as considerações para justificar o decreto de emergência nos
municípios potiguares castigados pela seca e publicado na edição de hoje
do Diário Oficial (DOE), o Governo do Estado calcula em R$ 3,8 bilhões
as perdas no campo – “representando uma redução de 47,76% na
contribuição da formação do total da produção obtida pelo estado em anos
de inverno normal”.
O decreto de emergência, entre outras coisas, leva em consideração
uma análise da Coordenaria Estadual da Defesa Civil e as perdas da
agropecuária com a seca que atingiu o Estado de janeiro de 2012 até a
presente data (setembro de 2013). E menciona relatório da Secretaria de
Meio Ambiente de Recursos Hídricos (Semarh) sobre a escassez de chuvas
registradas no RN.
O decreto reitera, ainda, o impacto da seca sobre as cadeias
produtivas no campo e lembra a insuficiência do estoque de água em
reservatórios, açudes, tanques, poços tubulares, barreiras e
“principalmente” cistenas – áreas em que o governo federal despeja
milhões em investimentos nos estados atingidos pela seca.
Em maio do ano passado, o então secretário de Agricultura do Estado,
Betinho Rosado, estimou que a seca no curto e médio prazo atingiria um
prejuízo de R$ 7,5 bilhões sobre os produtos agrícolas já
industrializados. Isso daria em torno de R$ 3,5 milhões de perdas ainda
no campo com quebras na produção. Pelo visto, Betinho serviu como fonte
para o decreto publicado hoje.
Essa previsão, aliás, foi feita no mesmo dia da abertura da IX
Expoleilão, em maio de 2012, evento substituído este ano no calendário
da Anorc pelo Encontro Nordestino do Setor de Leite e Derivados. Na
ocasião, o ex-secretário profetizou: “Essa situação (da seca) vai se
refletir na taxa de nascimento e mortalidade dos rebanhos com efeitos
que ultrapassarão este ano e serão sentidos nos anos seguintes”.
Hoje, o chefe do escritório do IBGE no RN, Aldemir Freire, questionou
o percentual de 46,7% de perda sobre a produção agrícola potiguar por
causa da seca. “Mesmo que todo o rebanho no Estado tivesse morrido, o
que em minha opinião está muito longe de ter acontecido, acho difícil
atingirmos prejuízos dessa magnitude, até porque muitos setores como a
fruticultura, por exemplo, não foram afetados pela falta de chuvas”,
afirmou.
Sem examinar diretamente os números evocados pelo decreto de
emergência do Estado, o professor Zivanilson Silva, do Departamento de
Economia da UFRN, comentou que as perdas na economia potiguar como um
todo tem sido preocupantes. Entre as evidências mais fortes de
estagnação econômica ele citou a redução da oferta de energia para a
indústria, especialmente depois do fechamento da fábrica da Coteminas,
em São Gonçalo do Amarante.
O setor têxtil lidera a lista das maiores retrações no consumo com
menos 33,80% em relação ao primeiro semestre do ano passado, seguido
pelo setor de confecções, com menos 14,80%. O segmento de bebidas
aparece em terceiro lugar entre as maiores quedas no consumo com menos
7,50%. Todos esses dados são da concessionária de energia em resposta a
uma consulta deste jornal em março deste ano.
Contudo, a mesma falta de chuvas que atingiu a produção rural trouxe,
na outra ponta, um aumento no consumo médio de energia elétrica no
Estado em torno de 7,8% no primeiro semestre deste ano em relação aos
seis primeiros meses de 2012.
O setor rural foi o que apresentou a maior expansão de demanda de
energia no período analisado, 12,6%, em função da necessidade de
irrigação das lavouras. A classe residencial registrou um aumento médio
de 10,7% no consumo do primeiro semestre e, além disso, também houve
crescimento na base de clientes e do poder aquisitivo da população do
Estado, que tem o maior consumo residencial do Nordeste – em média 144,6
Kwh neste primeiro semestre, superando o consumo médio do Nordeste que
foi 112 Kwh.
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