segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Telexfree na corda bamba

Mais de 1 milhão de investidores em todo o Brasil espera há cinco meses uma definição sobre o impasse em que se envolveu o maior fenômeno das empresas de Marketing Multinível (MNN), a Telexfree. Após várias derrotas nos tribunais, que suspenderam as atividades e determinaram bloqueio de bens, os investidores aguardam a liberação dos R$ 230,1 milhões retidos pela justiça. A empresa é suspeita de liderar um esquema de pirâmide financeira.

Apesar dos bloqueios, a empresa ainda atrai novos “divulgadores”, como são chamadas as pessoas que investem recursos na rede de marketing. Agora, porém, eles aplicam dinheiro nas redes formadas nos Estados Unidos, Argentina, Chile e Bolívia. Os divulgadores destes países compartilham as redes de investimentos com os brasileiros. Somente na Bolívia, a estimativa é de que 100 mil brasileiros estejam atuando hoje.

Enquanto isso, a empresa tenta a todo custo derrubar um processo judicial movido pela juíza Thaís Borges, da 2ª Vara Cível da Comarca de Rio Branco (AC), que em 18 junho passado bloqueou as contas bancárias da representante legal no Brasil, a Ympactus Comercial LTDA. Desde então, as atividades da rede estão suspensas. No Rio Grande do Norte, a estimativa é de que 75 mil pessoas tenham investimentos na rede marketing multinível da Telexfree.

O NOVO JORNAL tentou contato com vários divulgadores. Poucos quiseram falar, mas todos nutrem a expectativa de reaver os investimentos. O baiano Marcus França, 35, responsável por arregimentar boa parte dos potiguares para a rede de investidores, informou que a direção da Telexfree solicitou o “silêncio” dos divulgadores.

“Eu tenho que ficar neutro. Não quero prejudicar a empresa. Eu tenho recursos bloqueados, sei do drama de milhares de divulgadores, mas prefiro não falar nada. A empresa pediu para que os divulgadores esperassem em silêncio”, justificou por telefone.

Mais conhecido como “Presidente”, França era figura carimbada nas palestras de motivação para novos divulgadores da Telexfree. Os encontros serviam para explicar o “métier” aos investimentos. Em abril passado, numa das primeiras reportagens feitas pelo NOVO JORNAL sobre o assunto, ele revelou ter obtido mais de R$ 2,5 milhões com o marketing multinível.

O ex-vereador de Natal Heráclito Noé, outro grande investidor potiguar, também não quis falar muito sobre os recursos bloqueados. Ele recorreu a um processo individual para reaver o investimento, mas não quis revelar o valor questionado judicialmente. Em abril passado, Nóe revelou que realizou o primeiro investimento em setembro de 2012, quando aplicou R$ 30 mil na empresa. Em janeiro, ele investiu outros R$ 250 mil na Telexfree. Até junho, o faturamento mensal era de R$ 100 mil. “Hoje eu não quero falar sobre isso. Estou com a vida sossegada”, diz.

No entanto, ele reclama da atuação da assessoria jurídica da Ympactus na defesa das atividades da Telexfree no Brasil. “Foram primários. Enquanto o processo ainda tramitava no Acre, os advogados entraram com ações no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Houve uma demonização em torno da Telexfree e os divulgadores acabaram com os investimentos bloqueados”, reclama.

Desde junho passado, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou oito liminares solicitadas pela Ympactus. A empresa pedia a derrubada da decisão acreana. Responsável pelos processos, a ministra Isabel Gallotti argumentou que ainda falta esgotar a instância local para que o STJ possa avaliar qualquer medida relativa ao caso. Passados mais de 150 dias, o TJ do Acre ainda não encerrou a questão.

Hoje, Heráclito Noé atua como advogado criminal, é professor de direito penal em uma faculdade particular e também delegado de Polícia Civil. “Minha rotina não foi alterada em nada. A diferença é que não estou recebendo os repasses”, conta.

Ele reafirma que a Telexfree não é uma pirâmide financeira. “Se fosse, seria estelionato. Ocorre uma insegurança jurídica e nada foi feito para reverter isso. Mas isso não atrapalha o funcionamento. As pessoas estão investindo nas redes formadas fora do país”, conta. Noé espera que o modelo de Marketing Multinível seja regulamentado no país. “Nos Estados Unidos, a regulamentação foi aprovada em 1989. Por que não pode se fazer o mesmo no Brasil?”, indaga.

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