terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

“Não quero mais convivência com o governador”, disse o deputado José Dias


O deputado José Dias (PSD) rompeu com o governador Robinson Faria, do mesmo partido, desde domingo passado. Ele acusou o governador de traição, logo após a vitória de Ezequiel Ferreira (PMDB) para presidente da Assembleia Legislativa do RN.     

“O motivo do rompimento foi ele querer me utilizar como instrumento de traição”, justificou. Conhecido por não ter papas na língua, o deputado afirmou que o governador prometeu ajudar na reeleição do ex-presidente da Assembleia, Ricardo Motta (PROS), quando na realidade estava apoiando Ezequiel Ferreira.    

Com clima de relações abaladas com José Dias, o governador Robinson de Faria vai ler sua mensagem de governo hoje, às 16h, na Assembleia Legislativa. A mensagem foi enviada à AL ontem pelo Gabinete Civil para cumprir os prazos regimentais.    

Na sexta-feira passada, segundo José Dias, Robinson Faria havia lhe garantido que Ricardo Motta seria reeleito. No domingo, porém, quando soube da intenção do chefe do Executivo e seu amigo pessoal de apoiar Ezequiel Ferreira, ao invés de cumprir o acordo para reconduzir Motta à Presidência, Dias foi direto à casa do governador comunicar o rompimento. O governador não estava em casa, mas ele deixou o recado que estava fora do governo com Julianne Dantas Faria, mulher de Robinson Faria.    

“Eu não traio por interesse próprio; não vou trair por nenhum rei”, ressaltou sem adiantar se o rompimento também afetava a amizade pessoal com Robinson de Faria. “A minha colocação será no campo político. No campo político, eu fui absolutamente correto com ele. Fui solidário nos momentos em que ele estava sozinho. Nos momentos das  maiores dificuldades. Fui solidário até quando ele não era candidato”, desabafou José Dias.    

Em entrevista coletiva improvisada, ele contou que Robinson confidenciava à mulher (Julianne Faria) e ao próprio José Dias que não tinha condições de ser candidato. “Fui dormir muitas vezes também achando que não era candidato porque se a candidatura dele não prevalecesse, não vingasse, eu não apoiaria o candidato adversário (Henrique Alves)”, sublinhou o deputado do PSD.    

“Se a amizade continua ou não continua é uma coisa que não depende da gente. Agora, tem que manter a dignidade”, ponderou o deputado. Ele explicou que soube ter sido traído por Robinson Faria no domingo pela manhã, quando ligou para o deputado Fernando Mineiro (PT), também da base aliada do governador.  José Dias frisou que Robinson havia lhe garantido que tinha conversado com Mineiro para o petista votar em Ricardo Motta.   

Por telefone, reportou José Dias, o deputado Mineiro desmentiu que o governador lhe tivesse pedido para votar em Ricardo Motta.  “Ele (o governador) me disse na sexta-feira, no Abade, que tinha falado com o deputado Mineiro. E eu disse que era fundamental, pois se isso não fosse cumprido eu estaria totalmente desautorizado perante meus colegas”, destacou ao fazer uma retrospectiva de 28 anos de fidelidade à sua palavra na Assembleia.    

Em plenário e na coletiva de imprensa, José Dias disse que vai fazer oposição ao governo e não ao Estado, e que o fato de ter votado em Ezequiel não vai influenciar no relacionamento com o governador, que não existirá mais.    Nas revelações dos bastidores das eleições para a presidência da Assembleia, José Dias pontuou várias vezes os motivos de rompimento e fez uma linha do tempo que incluiu as votações dos projetos Rosalba Ciarlini (DEM) no final do governo, na convocação extraordinária. Disse que ela só conseguiu aprovar a contratação de empréstimo de R$ 850 milhões ao Banco do Brasil e a fusão dos fundos previdenciários depois de ele próprio ter se empenhado no apoio aos projetos.     

“Eu falei com o deputado Getúlio (Rêgo, líder do DEM), que falou com a governadora. Nós trabalhamos com o presidente (Ricardo Motta) a aprovação desse empréstimo. A fusão dos fundos, nós conseguimos aprovar”, ressaltou José Dias, que disse ter votado os projetos contrariando suas próprias convicções ideológicas porque a utilização dos fundos era o mesmo que sacar contra o futuro do Rio Grande do Norte. Argumentou que votar a favor, naquele momento, era o único caminho para não atrasar o pagamento do funcionalismo. 

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