domingo, 29 de setembro de 2013

Uma tristeza: mãe acorrenta filha para salvá-la das drogas após não encontrar assistência


Uma corrente e dois cadeados prendem a perna esquerda da menina à cadeira de metal. O corpo franzino quase não tem forças para arrastar o objeto pela sala. O atrito das correntes com o piso produz um som perturbador. Há três meses, Vanessa (nome fictício), 16 anos, é mantida acorrentada dentro da própria casa. A chave dos cadeados estão com a mãe. Foi ela quem decidiu acorrentar a filha. Uma atitude extrema e desesperada com o objetivo de tentar salvar a filha de uma outra prisão: as drogas.

 Usuária de maconha e crack há mais de quatro anos, a menina foge de casa e age com violência sempre que está livre. Acorrentada, Vanessa é mantida sob a vigilância da mãe, avô e irmãos. A história dramática é mais um exemplo do potencial de devastação das drogas e revela o lado da sociedade onde as políticas públicas de combate ao uso de entorpecentes não chegam.

“Minha filha começou a se drogar quando tinha 12 anos. No início era só maconha e não tinha tanto problema, mas, de uns tempos para cá, percebi que ela começou a usar outras drogas e ficou mais agitada e agressiva. Não era assim no início, mas ela passou a me xingar, brigar e quebrar as coisas. Eu não sabia mais o que fazer. O jeito foi acorrentar”, conta a dona de casa que prefere não expor a identidade.

A mãe perdeu as contas da quantidade de vezes que a filha fugiu de casa para se drogar. A família mora num dos bairros de maior vulnerabilidade social da zona Oeste da capital. Encontrar quem ofereça uma pedra de crack não é difícil. Trancar portas e janelas para evitar a fuga já não adiantava.

“Ela destelhava o teto e saía por cima. Pulava para casa vizinha e ia embora. Só voltava se a gente fosse atrás”, lembra a dona de casa e mãe de mais dois filhos – um jovem de 15 anos e uma menina de 12. “Quando tentava conversar, ela me esculhambava. Fazia coisa que eu nunca imaginava que seria possível”, completa.

 A adolescente fala pouco. Quando a reportagem chegou à residência, na última quarta-feira, a menina fumava um cigarro de palha enquanto assistia um programa policial na TV. Esboçou um sorriso que, por um instante, trouxe leveza ao rosto marcado pelas consequências físicas de tantos anos consumindo drogas. Pés descalços, vestia uma blusa vermelha e short jeans curto. Nas unhas dos pés, esmalte vermelho. Um piercing no nariz, anéis, pulseira e brincos enfeitam a menina.

Não há marcas ou feridas no calcanhar onde a grossa corrente está pendurada. Dois cadeados seguram a prisioneira à cadeira. Ela se movimenta pouco. Caminhar arrastando o assento é difícil. Levanta para verificar a panela que está no fogão e volta a se sentar. Onde vai, carrega o peso. Os momentos de liberdade são restritos a ida ao banheiro. À noite, a corrente e cadeados acompanham a menina no leito onde dorme.

As respostas são curtas e vazias. Às vezes, sem nexo. “Não sei o porquê estou aqui. Queria que alguém respondesse”, diz quando questionada sobre sua situação. “Se eu saísse, ia na casa de uma amiga pegar uma calça que está lá”, é a resposta sobre o que gostaria de fazer. “Levar injeção, é? Queria sim”, dispara ao comentar a possibilidade de se submeter a tratamento médico. Outras perguntas foram feitas, mas o silêncio e um olhar vazio encerraram a conversa.

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