terça-feira, 24 de setembro de 2013

Camelôs criticam reordenamento do comércio informal da Cidade Alta e temem prejuízos

O projeto de reordenamento do comércio informal em Cidade Alta, idealizado pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), deverá adequar os espaços do centro comercial em Natal para alguns vendedores ambulantes. Até o final de outubro, esses vendedores serão distribuídos em espaços fixos legalizados para a comercialização, localizados nas ruas Princesa Isabel, Coronel Cascudo e João Pessoa. Entretanto, a medida que beneficiará alguns vendedores pode prejudicar outros. É o que reclama comerciantes locados no camelódromo do centro.

O questionamento é argumentado em função da possibilidade de vendas que uns terão a mais que os outros. Para a comerciante Miraci Gomes, que divide um espaço com sua irmã no Shopping Popular, essa permissão que a Prefeitura está dando para vendedores ambulantes irá prejudicar quem trabalha no camelódromo.

“Lugar de camelô é no camelódromo. Por isso nós viemos para cá e permaneceremos aqui”, disse. “Porém, essa medida da Prefeitura deixará o movimento mais fraco para a gente. Com certeza não apoiamos essa permissão. Se todos os vendedores ambulantes viessem para cá, as possibilidades de venda seriam iguais para todos”, afirmou.

Francilene Oliveira, que também tem um box no camelódromo, disse que o reordenamento da Semsur deixará os comerciantes do Shopping Popular fora da concorrência. “Nós conseguimos ter o nosso lucro, mas de certa forma somos prejudicados. Quem está nas calçadas tem mais possibilidades de vender, já que estão na passagem das pessoas. Para não prejudicar nenhum comerciante, o ideal seriam que todos os vendedores informais ficassem em um mesmo local. Só assim as pessoas viriam até nós”, declarou.

Segundo o responsável pela administração do Shopping Popular, Francisco Assis de Lima, o espaço, cedido pela Prefeitura em 1997, ainda tem boxes para alojar alguns comerciantes. Dos 448 espaços, ainda restam uma média de 15% fechados. Cada box pode ser alugado pelo valor de R$ 6 por semana – dinheiro que ajuda nos custos de manutenção, despesa e segurança.

“Se a Prefeitura nos ajudasse a aumentar esse terreno e criar mais boxes, teríamos espaço para todos os ambulantes”, explicou. “De fato, quem fica nas calçadas das ruas acaba nos prejudicando. E o pior de tudo é que tem quem ocupe um box aqui, mas ainda trabalhe nas ruas. Cadê a fiscalização?”, questiona o administrador.

Reordenamento
Ao todo, serão 90 vendedores ambulantes que terão pontos fixos nas ruas de grande fluxo popular. Os locais de instalação e o número de ambulantes foram definidos a partir do censo realizado no mês de março pelo Departamento de Fiscalização da Semsur, que fez um levantamento do número de comerciantes que atuam na área. O estudo avaliou mercadorias comercializadas, área de atuação e dados pessoais, além de um questionário socioeconômico e registro fotográfico.

O resultado do levantamento determinou o número de vagas a serem ocupadas. As avaliações das áreas para instalação do comércio informal no bairro utilizaram como critérios a preservação do passeio público, acessibilidade, dimensões dos passeios, as tipologias edilícias e o impacto no trânsito da cidade.

O censo verificou que 172 comerciantes informais atuam na Cidade Alta. Após análise de cada tipo de mercadoria comercializada e respectivo equipamento, ficou constatado que 90 comerciantes se classificaram no processo seletivo, pois exercem suas atividades dentro da lei.

Além das vagas fixas, foram disponibilizadas 23 vagas para comerciantes rotativos, que são os vendedores informais que exercem as atividades com poucos instrumentos de trabalho, como vendedores de água e picolé, que geralmente não impedem o fluxo de pedestres nas calçadas.

Paulo Sérgio, 32, responsável por uma barraca de sandálias na rua João Pessoa, disse à reportagem que esse reordenamento foi a melhor forma encontrada pela Prefeitura para solucionar o problema dos comerciantes e pedestres. Ele, que trabalha com o comércio informal há mais de oito anos, disse que não tem outro lugar que possa trabalhar.

“Sabemos que o pessoal do camelódromo reclama, mas também não temos o que fazer. Precisamos nos sustentar e é daqui que tiramos esse sustento. Com o reordenamento, nós podemos garantir nosso emprego e as pessoas não se sentirão mais prejudicadas, já que terão mais espaço livre nas calçadas”, disse. Na rua João Pessoa, a equipe da Semsur está terminando o alongamento da calçada onde ficará parte dos ambulantes.

De acordo com Fátima Lima, secretária adjunta da Semsur e coordenadora do projeto de readequação, não há razão de desentendimento entre vendedores ambulantes e comerciantes do camelô.  “O censo que realizamos incluiu apenas os vendedores que não possuem box no Shopping Popular. Os que já tinham os seus quiosques não foram beneficiados em nosso projeto. Houve uma avaliação criteriosa e não podíamos deixar essas pessoas sem condições de trabalho”, explicou Fátima.

A representante da Semsur ainda informou que os comerciantes do Shopping Popular também serão beneficiados com um projeto de readequação. “Nós também estamos pensando nas condições deles. Estamos dando prioridade à readequação dos ambulantes, mas depois disso partiremos para a reestruturação do Shopping. No primeiro semestre de 2014 tudo estará definido”, disse. Para manter o controle do número de vendedores ambulantes licenciados, a Secretaria de Serviços Urbanos disponibilizará oito fiscais que irão trabalhar diariamente no comércio da Cidade Alta.

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