quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Conselho Nacional de Secretários de Saúde debate os sobre Caminhos da Saúde no Brasil

O Sistema Único de Saúde (SUS) completa, em 2013, 25 anos de existência. E a sua trajetória, desenhada por sonhos, conquistas e muitos desafios, desperta para a necessidade da reflexão a respeito do seu futuro. Políticas públicas de saúde como os programas nacionais de Imunizações; de Transplantes de Órgãos e Tecidos; e de DST e Aids, reconhecidos e referenciados internacionalmente e com padrão de qualidade e excelência que a população brasileira almeja e reivindica, reforçam que a saúde pública brasileira tem muito o que comemorar.

Diante deste cenário e dos desafios impostos, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) promove durante esta quarta-feira (25), o seminário Conass Debate – Caminhos da Saúde no Brasil, que acontece em Brasília, com o objetivo de discutir os caminhos para a organização dos sistemas público e privado de saúde no Brasil em geral e no SUS em particular. O evento é uma parceria entre o Ministério da Saúde, Conass e Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

Participaram da mesa de abertura o vice-presidente da Região Sul do Conass, Michele Caputo Neto, o presidente do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Antônio Carlos Nardi, a presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro de Souza, Joaquim Molina, representante da Opas e o secretário de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, Luiz Odorico Monteiro, que representou o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

O SUS foi concebido constitucionalmente para ser um sistema público universal, financiado por impostos gerais, à semelhança dos sistemas canadense, português, espanhol, italiano e sueco. Trata-se da maior política de inclusão social do país. No entanto, não conseguiu constituir-se enquanto tal por várias razões, sendo a principal delas o subfinanciamento que hoje configura-se como seu problema central e do qual os demais são derivados.

Diferentemente do que foi idealizado e conquistado pelo movimento sanitário e pelos constituintes, após 25 anos a prática social do SUS não é de um sistema único de saúde, tendo em vista que ele convive com dois sistemas privados, ou subsistemas (a saúde suplementar e o desembolso direto), compondo, no Brasil, o que se encontra internacionalmente com o nome de “sistemas segmentados”.

Este é o dilema que o seminário Conass Debate – Caminhos da Saúde no Brasil quer discutir. Há caminhos alternativos para a organização do sistema de saúde no Brasil em geral e no SUS em particular? É possível que o sonho do SUS universal se concretize nos próximos anos? Se sim, como? O SUS está fadado a ser um sistema público destinado para os setores mais pobres da população? Estas e outras questões que serão abordadas durante o evento pretendem responder se haverá, nos próximos anos, o aprofundamento da segmentação do sistema de saúde pública no Brasil e se há uma outra via para se alcançar a cobertura universal em saúde no país.

Por meio do projeto Conass Debate, que configura-se como uma nova linha de atuação do conselho, o Conass busca fomentar a discussão de temas importantes para o setor saúde, tendo como mote dos debates a sustentabilidade do SUS, a partir da expressão de pensamentos, de estudos e de opiniões, mesmo e, principalmente, divergentes, que contribuam para o desenho de caminhos seguros para o sistema. O projeto contempla também o objetivo de tratar questões estratégicas para a saúde pública brasileira com visão de futuro, sem se ater aos problemas pontuais ou operacionais do SUS.

“O Conass espera que os debates apontem caminhos sustentáveis para o sistema de saúde e nos ajude a consolidá-lo. São inegáveis avanços da saúde pública obtidos com a implantação do SUS, mas ainda persistem situações que comprovam que ele precisa ser revisto”, destaca o presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde, Wilson Duarte Alecrim.

Este é o segundo Conass Debate que é realizado. No primeiro seminário, realizado no último mês de abril, o tema foi ‘Saúde: para onde vai a nova classe média’, em que buscou-se conhecer melhor o movimento da nova classe média brasileira, chamada de classe C, e suas repercussões no SUS e no sistema privado de saúde.

O vice-presidente do Conass Região Sul, Michele Caputo Neto, destacou a importância do evento diante do atual cenário da saúde pública. “Não dá mais para discutirmos apenas questões pontuais ou operacionais. Temos exemplos no SUS, como por exemplo, o tratamento da AIDS, que é um padrão de excelência para o mundo e é esse padrão de excelência que a população espera do SUS como um todo, pois o SUS, se funcionasse na prática, seria a maior política de inclusão social que existe”, afirmou.

O secretário de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, Luiz Odorico Monteiro de Andrade, defende que a saúde pública seja pensada na perspectiva histórica, levando em consideração, por exemplo, como o processo de urbanização na Europa Ocidental colocou a saúde no centro da agenda de discussão. Além disso, para o representante do Ministério da Saúde, há um equívoco ao pensar que existem dois sistemas de saúde no Brasil, o público e o privado.

“Temos um único sistema que é o Sistema Único de Saúde (SUS), que é a saúde tem que ser garantida como relevância pública. A constituição diz que a assistência à saúde poderá feita, também, pela iniciativa privada. Precisamos dialogar os valores do SUS entre o que ideologicamente defendemos e o que precisamos renunciar na prática para fazer do SUS um sistema universal e integral”, destacou Luiz Odorico de Andrade.

O representante do Ministério da Saúde disse que o caminho para solucionar os problemas de saúde é trabalhar com três frentes de atuação conjuntas: necessidade da população, mundo do trabalho (recursos humanos) e mundo da educação (campanhas de conscientização). Neste contexto, Luiz Odorico de Andrade ressaltou a importância do programa do Governo Federal Mais Médicos.

“O Mais Médicos não é um programa que está dando provimento apenas imediatamente, mas vislumbramos o trabalho a curto, médio e longo prazo, pois, nos próximos anos abriremos mais de 11 mil vagas de medicina, de modo que tenhamos ensino, pesquisa e assistência articulados. Além disso, construiremos mais 14 hospitais universitários e abriremos mais de 12 mil vagas de residência médica”, afirmou o secretário de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde.

Eugênio Vilaça, coordenador técnico do projeto Conass Debate, contextualiza o tema mostrando os sistemas de saúde internacionais. Para o coordenador, o dilema é tratar o SUS como um sistema Universal, pois para ele, hoje, o Sistema de Saúde esbarra em quatro pontos: Iniquilidade, ineficiência, inefetividade e insatisfação da opinião pública.

“Um sistema universal é aquele que é capaz de ofertar todos os serviços a todas as pessoas, mas a Organização Mundial de Saúde propõe uma oferta ampla dos serviços sanitários, de modo que tenha uma cobertura universal de saúde. É necessário uma sinergia entre o sistema público e privado da saúde para conseguirmos alcançar o Sistema de Saúde que a sociedade deseja, sabendo também que há um preço a se pagar por esse sistema que a população deseja”, afirmou Eugênio Vilaça.

A primeira mesa de debates sobre o tema foi coordenada pelo vice-presidente do Conass, Michele Caputo Neto e contou com a participação do ex-ministro da Saúde e diretor executivo do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (ISAGS), José Gomes Temporão, que abordou sobre ‘Para onde vai o SUS?’. “Ninguém pode negar que temos excelências de qualidade no SUS, como o combate ao tabagismo, a nossa imunização, PSFs, o SAMU. Tudo isso são conquistas importantes do Sistema Único de Saúde”, afirmou.

Em seguida, o diretor de Assuntos Institucionais da Amil, Antônio Jorge Kropf, abordou a temática “Para onde vai o sistema suplementar?”.

Por fim, o economista de saúde aposentado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Andre Cezar Medici, apresentou uma palestra com o tema ‘Uma nova via é possível?’. 
“Há muito ainda o que fazer para melhorar a saúde no Brasil, mas as mensagens de insatisfação da população estão aí há muito tempo. Melhoramos nossos indicadores de saúde nos últimos 20 anos, mas não tanto como deveríamos. O que realmente importa é fazer com que o desenvolvimento seja o espelho da democracia. O populismo tenta infantilizar a sociedade através de soluções aparentemente fáceis, mas que não trazem nem desenvolvimento nem igualdade de oportunidades”.

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